quarta-feira, 13 de maio de 2015

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Eurogrupo demarca-se da ideia de referendo na Grécia

LUÍS REIS PIRES

Tema não foi abordado na reunião do Eurogrupo e Bruxelas desvaloriza a questão. Atenas conseguiu pagar ontem ao FMI usando dinheiro que estava depositado no próprio Fundo.
A ideia de um referendo às medidas necessárias para fechar o segundo resgate na Grécia, admitida pelo ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, foi ontem desvalorizada em Bruxelas. Fontes europeias, próximas do Eurogrupo, demarcam-se de uma questão que, garantem, foi "exagerada" pela imprensa e ganhou um significado que não tinha.
A ideia de um referendo já tinha sido avançada pelo primeiro-ministro helénico, Alexis Tsipras, que considerou que se um acordo com as instituições europeias e o FMI implicar a implementação de medidas que contrariem o que prometeu ao povo grego, o mesmo deve ser alvo de referendo junto da população.
Na segunda-feira, porém, o tema ganhou uma dimensão diferente, depois de ser abordado por Schäuble. "Talvez esta seja a forma correcta de deixar o povo decidir se está pronto para aceitar o que é necessário ou se preferem ter a outra coisa", respondeu o ministro alemão, à entrada para o Eurogrupo, quando questionado sobre o referendo. Uma visão diferente da que o mesmo Schäuble tinha em 2011, quando o então primeiro-ministro grego, George Papandreou, quis referendar o programa da ‘troika'.
Questionadas pelo Económico, várias fontes comunitárias desvalorizam a questão e dizem que Schäuble se limitou a responder a uma pergunta de um jornalista e que o tema "não foi de todo mencionado na reunião". As mesmas fontes frisam que a ideia de referendo surgiu do próprio Tsipras como forma de pressionar a ala mais radical do Syriza a aceitar os compromissos para um acordo. E garantem que nunca o assunto foi abordado com o Grupo de Bruxelas - que junta a ‘troika' e o Mecanismo de Estabilidade Europeu (MEE).
O foco das instituições e de Atenas está em conseguirem chegar a um acordo "nas próximas duas a três semanas", para que o mesmo possa depois ser votado no Parlamento helénico num prazo de mais duas ou três semanas. É esse o prazo para concluir as negociações com sucesso antes de 30 de Junho, data do fim da extensão técnica do actual resgate, a partir da qual os 7,2 mil milhões de euros que faltam da ajuda externa deixam de estar disponíveis.
Atenas usa dinheiro do FMI... para pagar ao FMI
A situação financeira na Grécia está cada vez mais apertada e pressiona Atenas a fechar um acordo o mais rápido possível. Ontem, as autoridades gregas conseguiram pagar os 750 milhões de euros que estavam previstos ao FMI, mas tiveram de ir buscar a maior parte do dinheiro ao próprio FMI.
Cada membro do Fundo tem duas contas na instituição, uma que diz respeito à sua quota anual e uma outra de emergência. Por norma, o montante que a Grécia tem no FMI vale cerca de 985 milhões de euros, mas, de acordo com os dados de Março, a conta somava 700 milhões. Desses, Atenas usou 650 milhões para conseguir fazer o pagamento de ontem, de acordo com fonte do próprio governo helénico.
Apesar de os países poderem usar as respectivas contas como lhes aprouver, não é normal que a utilizem para pagar ao próprio FMI. Até porque são obrigados a pagar juros sobre a diferença entre o valor definido para o depósito e o montante que está, efectivamente, depositado, pelo que a acção de Atenas se assemelha a fazer um empréstimo junto do FMI para pagar outro.

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