A pergunta que dá título a este post me ocorreu no último domingo, quando passeava com meus filhos pela Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos lugares mais caros do Rio de Janeiro. Como todos se lembram, no último domingo dia 15 houve manifestações grandes contra o governo pelo Brasil afora, com especial intensidade na Avenida Paulista, em São Paulo. Junto aos manifestantes estavam as equipes de TV que, pela primeira vez desde junho de 2013, desceram dos helicópteros e enxergaram, seus repórteres, muitas famílias, crianças e idosos vestidos de verde e amarelo em um clima de muita paz, embora de raiva.
Mas enfim, batiam panelas uma dúzia de pessoas na cobertura de um prédio de luxo na Lagoa. Imediatamente pensei: contra o que se revoltam? Por que panelas??
A resposta veio hoje à noite quando sai para tomar uma cerveja com Henrisson, o meu amigo jornalista da Suécia que acabou de voltar de Bogotá, na Colômbia. Lá, parece, está uma maravilha: o jantar em um restaurante honesto, com bebida, sai pelo equivalente a R$ 8,00.
Mas enfim, refletindo sobre a questão do bate-panelas, ele me lembrou que na Argentina quem bateu panelas no passado foi o povo que estava, de fato, sem comida. No Brasil também: nos anos 1980 houve grandes protestos contra a “carestia” (era assim que se chamava no imediato pós-ditadura) batendo panelas vazias, ou seja, sem comida.
Este não é definitivamente o caso do pessoal que mora na cobertura da Lagoa. Mas então, por que panelas ou não apitos ou o que seja?
Acho que o pessoal que bate panelas está querendo dizer que não quer pagar pelo ajuste que vem por aí.
É uma camada social que não piorou de vida no governo Lula, mas também não melhorou. É diferente dos muito ricos, que ganharam dinheiro com Lula. É diferente também da enorme maioria da população brasileira que ganhou, mesmo que pouco, com Lula e Dilma – e agora vê suas conquistas (o carro, a universidade, a TV de plasma, o celular) rodar pelo ralo, sem ter sido avisado desse risco iminente durante a campanha eleitoral.
Resumindo: as panelas batem contra a política partidária. Na hora do ajuste, a política partidária – PT, PMDB ou o que seja – é o símbolo de atendimento (mesmo que no básico) aos mais pobres. Para a classe média que estava na Avenida Paulista, que não precisa no cotidiano do Estado (salvo polícia), pois não vai no posto de saúde, na escola pública e não depende de ônibus, a política partidária é sinônimo apenas de prejuízo: aquilo que lhes tiram (impostos) para dar aos outros.  Para a classe média, os partidos geram desconfiança pois estes tem os pobres como clientela principal ou seja, votos.
Já para os mais pobres, os políticos são como os ventos: aparecem e desaparecem conforme as circunstâncias. Para os 40% de brasileiros que ganham até dois salários mínimos de renda familiar a política é crucial: a melhora ou piora nos serviços públicos têm efeito imediato na vida cotidiana. Mas quem e quando estende a mão é sempre uma espécie de mistério.
Onde vai dar essa pororoca?
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ROGÉRIO JORDÃO

Rogério Pacheco Jordão, 46, é jornalista e sócio-diretor da Fato Pesquisa e Jornalismo (FPJ), empresa de consultoria nas áreas de pesquisa e editorial.Mestre em política comparada pela London School of Economics (LSE), escreveu o livro ‘Crime (quase) Perfeito - corrupção e lavagem de dinheiro no Brasil’. Paulistano, mora no Rio de Janeiro há mais de década, onde é pai de duas crianças.