domingo, 26 de julho de 2015


Tom Cruise dispensa dublê em cena de 'Missão: Impossível' e se esquiva de polêmicas sobre seita

O Globo
RIO - Logo no início de “Missão: Impossível — Nação secreta”, que chega aos cinemas brasileiros dia 13 de agosto, uma agente secreta bem mais jovem do que o personagem principal da franquia se encontra com Ethan Hunt numa loja de discos de Londres. Boquiaberta, ela só consegue articular duas frases antes de sua abrupta despedida do filme: “Sei quem você é. São mesmo verdadeiras todas as histórias que contam a seu respeito?” A metáfora com a vida do lado de cá da tela é exata. Afirmação e pergunta também perseguem o protagonista e produtor dos filmes inspirados na série de TV estrelada, entre 1966 e 1973, por Steven Hill e Peter Graves, e cuja marca registrada é a música-tema composta pelo argentino Lalo Schffrin.

Em impressionante forma física aos 53 anos, Tom Cruise encarna pela quinta vez, em duas décadas, o agente Ethan Hunt, cinco meses depois do lançamento nos EUA do documentário “Going clear: Scientology and the prison of belief”, ainda sem título em português. Dirigido por um vencedor do Oscar (Alex Gibney) com base em livro de um jornalista laureado com o prêmio Pulitzer (Lawrence Wright), sucesso de crítica e público, o filme argumenta que as duas faces mais públicas da organização — Cruise e John Travolta — tinham ciência e nada fizeram em relação a abusos físicos e psicológicos sofridos por membros da organização. A Cientologia negou todas as acusações, Travolta disse que não veria “documentário tão claramente negativo”, enquanto Cruise segue sem tratar do tema em público.

— As opiniões que as pessoas têm do Tom são condicionadas pelos mitos que o cercam, um mix de boatos e especulações. O que eu vejo, há quase dez anos, nos sets de três filmes da série “Missão: Impossível", é um cara meio desengonçado do Kentucky, interessado em fazer graça com os amigos, com uma preocupação central: a experiência que o público terá na sala de cinema nos filmes que ele protagoniza — diz o inglês Simon Pegg, o Benji da franquia, que segue como o centro nervoso de humor do filme mas que, em “Nação secreta”, também se arrisca em cenas de ação.

Na première mundial do filme, na última quinta-feira, na Áustria, com o tapete vermelho instalado na frente da Ópera de Viena, palco de uma das cenas mais bem resolvidas do filme dirigido por Christopher McQuarrie, Cruise passou mais de uma hora distribuindo autógrafos, dando abraços apertados e beijando fãs emocionados de todas as idades. O espetáculo é tão impressionante quanto exótico: revive uma Hollywood em que os astros eram reis de um negócio hoje dominado por adaptações de histórias em quadrinhos de super-heróis e de livros voltados para adolescentes.

— Desde que tinha 4 anos, eu sonhava em atuar em filmes. Foi a única coisa que quis fazer na vida. Naquela época, não havia faculdade de cinema, o jeito era ir ao cinema todo dia, prestar atenção em tudo o que aparecia na tela. Por isso, eu me sinto extremamente privilegiado quando paro para respirar e refletir sobre minha carreira, o que já fiz e onde estou neste momento — afirma Cruise, miraculosamente sem derramar uma gota de suor após o encontro com os cerca de mil fãs que enfrentaram o calor com sensação térmica de 40 graus para ficar perto do ídolo. — Ainda fico arrepiado com esse tipo de reação. Mesmo. E maravilhado com a repetição de cenas como essa mundo afora.

As três mais recentes produções estreladas por Cruise, no entanto — “Jack Reacher: o último tiro” (2012, também dirigido por McQuarrie), “Oblivion” (2013) e “No limite do amanhã” (2014, sob a batuta de Doug Liman, com McQuarrie coassinando o roteiro) —, falharam em ultrapassar a marca dos US$ 100 milhões nas bilheterias dos EUA. Mundo afora os números foram bem mais gordos, mais próximos dos resultados da lucrativa franquia “Missão: Impossível”. Acumulados, já são mais de US$ 2 bilhões, com os cofres mais recheados por conta de “Protocolo fantasma”, o quarto tomo, dirigido por Brad Bird (“Os incríveis”), que vendeu quase US$ 695 milhões de ingressos. “Nação secreta” será a prova dos nove para Cruise confirmar se ainda pode carregar sozinho uma superprodução — estimada em US$ 150 milhões — nas costas.

— Há uma razão para esse fascínio planetário em torno dele. Não é mero acaso o nome Thomas Cruise. Ele é um cruzeiro constante, em velocidade máxima, às vezes até mesmo um míssil, mas sempre seguro — brinca a sueca Rebecca Ferguson, a misteriosa Ilsa Faust no filme, uma espiã tão letal quanto Hunt.

ESPECULAÇÕES SOBRE NOVO "TOP GUN"

McQuirre diz que quis subverter o gênero de filmes de espionagem e criar uma personagem feminina de peso, distante das Bond girls, ainda que a bela atriz de 31 anos apareça no filme de biquíni, saindo lentamente de uma piscina, em Casablanca:

— Não queria uma girl, o filme pedia uma mulher. E ela tem propositadamente um ar de anos 40, uma coisa quase ingridbergmaniana. E encontra, no Hunt de Cruise, seu outro lado da moeda.

O enredo de “Nação secreta” traz a Força Missão Impossível (cuja sigla, em português e em inglês, ironiza o Fundo Monetário Internacional) decidida a provar a existência do Sindicato, grupo de ex-agentes secretos dispostos a explodir, literalmente, a ordem mundial. Os anarcoterroristas só não contavam com a resistência dos agentes comandados por Brandt (Jeremy Renner). Do outro lado da burocracia dos serviços de inteligência americana, está o diretor da CIA vivido por Alec Baldwin, interessado na aposentadoria de Ethan Hunt.

No que depender de Tom Cruise, essa não é uma possibilidade real para personagem ou ator. Em 2017 ele volta às telas em filme assinado pelo amigo Doug Liman, ainda sem título em português, e não refuta nem alimenta especulações em torno de uma segunda edição daquele que é, muito provavelmente, seu mais famoso papel, o Maverick, de “Top gun — Ases indomáveis”. Ela ainda depende, diz o ator, de um roteiro interessante o suficiente para fazê-lo voltar a pilotar aviões de elite das Forças Armadas americanas. Enquanto isso, ele se aventura do lado de fora de um Airbus em plena decolagem, na cena que abre “Nação secreta”. O próprio Cruise diz ter sido o ato mais perigoso de sua longa trajetória no cinema americano. O ator recusou a ajuda de dublês. História verdadeira. E coisa de gente muito louca.

DOC INVESTIGA CULTOS E INTRIGAS

“Going clear: Scientology and the prison of belief” não traz grandes novidades em relação ao impressionante esforço de reportagem de Lawrence Wright, lançado no Brasil com o título “A prisão da fé — Cientologia, celebridades e Hollywood”, mas apresenta imagens fortes de Tom Cruise em cerimônias da Igreja da Cientologia em Los Angeles, retratando o ator como uma das figuras mais importantes da polêmica organização. Uma das sequências mostra-o recebendo a Medalha da Liberdade do Valor e sendo saudado como “embaixador global informal da Cientologia”. Em outro trecho, imagens registradas na festa de 42 anos do ator retratam uma celebração num iate da organização, na qual Cruise aparece cantando e dançando.

O documentário trata, ainda, da amizade do astro com o líder da seita religiosa, David Miscavige. Padrinho do casamento de Cruise com a atriz Katie Holmes (o casal rompeu em 2012), Miscavige teria, segundo depoimentos de ex-membros da direção da organização, orquestrado a separação do ator de Nicole Kidman, sua segunda mulher, com quem ele adotou seus dois filhos mais velhos.

*Eduardo Graça viajou a convite da Paramount Pictures.

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